Google+

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Invasão de "bispos"!


1. Introdução

Com o surgimento do Protestantismo Pentecostal, os fundadores de muitas denominações resolveram intitular-se "bispos". Será que esses "bispos” pentecostais são Bispos de fato ou praticam falsidade ideológica?

2. A origem da hierarquia da Igreja

Em documentos do início do séc II é possível observarmos que a Igreja primitiva já estava organizada hierarquicamente em bispos, presbíteros e diáconos.

O Bispo era o chefe de uma diocese, isto é, de um conjunto de paróquias geograficamente organizadas. Cada paróquia tinha como ministro um presbítero. Este era o sacerdote responsável por ministrar os Sacramentos e orientar os fiéis na doutrina. Ele normalmente era auxiliado por diáconos.

Tudo isto é testificado, por exemplo, nas sete cartas de Santo Inácio de Antioquia [1] datadas de 107 dC (escritas antes da organização final dos livros da Bíblia). Santo Inácio foi Bispo de Antioquia e discípulo pessoal dos Apóstolos Pedro e Paulo.

3. O Episcopado tem origem na Sucessão dos Apóstolos

Episcopado é o nome que se dá ao ministério do Bispo. O Episcopado tem origem no ministério dos Apóstolos, isto é, foi o próprio Senhor Jesus Cristo que instituiu os Apóstolos como Bispos da Sua Igreja, que ele mesmo instituiu sobre a Terra (Mt 16, 18). Com efeito, a Bíblia ensina que Nosso Senhor Jesus Cristo deu o governo da Igreja aos Santos Apóstolos: [i]"Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e, quem me rejeita, rejeita Àquele que me enviou"[i] (Lc 10, 16).

Eram eles, os Apóstolos, aqueles que estariam agora sentados na Cadeira de Moisés, no lugar dos escribas e Fariseus (cf. Mt 23,2-3). Por isso, o Cristo deu a eles a autoridade que outrora foi dada a Moisés: ligar e desligar,atar e desatar, com o sentido de unir e desunir: definir o que é Certo e o que é Errado em termos de doutrina verdadeiramente evangélica (cf. Mt 18,18). Por essa razão São Paulo ensina que “a Igreja do Deus Vivo é a Coluna e o Fundamento da Verdade” (cf. 1Tm 3,15).

Como os Apóstolos não permaneceriam na terra para sempre, e como o mundo é muito grande, nas várias regiões e nações aonde o Evangelho ia sendo pregado, iam instituindo novos Bispos, que deveriam cuidar do rebanho de Cristo na ausência deles, os Apóstolos - e após a morte deles também. Afinal, Jesus prometeu que estaria com a sua Igreja até o fim dos tempos (cf. Mt 28, 20).

Um dos testemunhos históricos mais antigos desta realidade está na Primeira Carta de São Clemente aos Coríntios (2), escrita por volta do ano de 90 d.C (mais de dois séculos antes da composição final da Bíblia Cristã). Clemente, 4º. Bispo de Roma na sucessão de Pedro, escreveu:

"(42)Os Apóstolos receberam do Senhor Jesus Cristo o Evangelho que nos pregaram. Jesus Cristo foi enviado por Deus. Cristo, portanto vem de Deus, e os Apóstolos vêm de Cristo. As duas coisas, em ordem, provêm da Vontade de Deus. Eles receberam instruções e, repletos de certeza por causa da ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, fortificados pela Palavra de Deus e com plena certeza dada pelo Espírito Santo, saíram anunciando que o Reino de Deus estava para chegar. Pregavam pelos campos e cidades, e aí produziam suas primícias, provando-as pelo Espírito, a fim de instituir com elas Bispos e Diáconos dos futuros fiéis. Isso não era algo novo: desde há muito tempo, a Escritura falava dos Bispos e dos Diáconos. Com efeito, em algum lugar está escrito: ‘Estabelecerei seus bispos na justiça e seus diáconos na fé’."

"(44)Nossos Apóstolos conheciam, da parte do Senhor Jesus Cristo, que haveria disputas por causa da função episcopal. Por esse motivo, prevendo exatamente o futuro, instituíram aqueles de quem falávamos antes, e ordenaram que, por ocasião da morte desses, outros homens provados lhes sucedessem no ministério."

Segundo a o ensinamento que os Apóstolos diretos de Jesus Cristo comunicaram aos seus discípulos, os Bispos da Igreja são sucessores diretos dos Apóstolos. É exatamente por isso que, fora da sucessão dos Santos Apóstolos, não há nem pode haver Episcopado verdadeiro: logo, não há Igreja de fato.






4. Testemunhos Históricos da Sucessão dos Apóstolos
Alguns membros de algumas das novas seitas ditas "evangélicas" chegam ao extremo de alegar que a Sucessão Apostólica é algo inventado pela Igreja Católica para sustentar que só ela possui Bispos e presbíteros verdadeiros. Nada mais distante da realidade, por muitos motivos:

Em primeiro lugar, a Igreja Católica não alega que só ela possui Bispos e Presbíteros verdadeiros. Ela reconhece a validade dos ministros da Igreja Ortodoxa, afinal, os Bispos ortodoxos são também sucessores dos Apóstolos, assim como os Bispos católicos. Em segundo lugar, é no mínimo curioso notar como o subjetivismo protestante tenta inverter os fatos, querendo "reinventar" até a História! Não foi a Igreja Católica que "inventou" a Sucessão Apostólica: o protestantismo é que precisa inventar que a Sucessão dos Apóstolos não é um fato (ignorando a farta documentação existente, os registros historiográficos, a arqueologia, a própria História, enfim) pois esta é a maior prova de que as tais "igrejas" ditas "evangélicas" não são igrejas de fato.


“A História Eclesiástica”[2], de Eusébio de Cesaréia, é um dos mais rigorosos registros dos acontecimentos dos primeiros quatro séculos da Igreja, incluindo a realidade histórica da sucessão dos Apóstolos.

5. Conclusão

Desgraçadamente, sair por aí criando “igrejas” e se intitulando "bispo" é uma coisa muito, muito fácil, praticamente estimulada por nossa legislação, como você pode ver aqui. Tanto, que nos tempos atuais, "igrejas" são encaradas e geridas como se fossem empresas, verdadeiras máquinas de fazer dinheiro, e seus responsáveis nem sequer pagam impostos. Fundar igreja e se intitular a si mesmo de "bispo" é o charlatanismo mais rentável de todos! Infelizmente, pessoas ingênuas e desesperadas, sem nenhum conhecimento da fé e da Igreja não faltam. Por isso, católico, é de suma importância que você conheça o nosso passado, as nossas raízes, a história da Igreja, que preserve a memória cristã.

Resumindo, como podemos comprovar no testemunho dos primeiros cristãos,fora da sucessão regular dos Apóstolos não há verdadeiro Episcopado, não há verdadeiro ministério, não há bispos e, muito menos, "apóstolos". Logo, não há Igreja de Fato. Por esta razão, os chamados “bispos evangélicos" não são Bispos, e suas “igrejas” não são Igrejas. Agirmar isto não é ser intolerante, nem rigoroso, nem grosseiro. É apenas e simplesmente falar a verdade. Ou será que para sermos gentis e tolerantes deveríamos ser coniventes com a mentira?

Já está mais do que na hora desses nossos irmãos saírem de sua “redoma bíblica” e procurarem conhecer a verdadeira fé cristã dos primeiros séculos, isto é, dos tempos em que a Bíblia Sagrada Cristã ainda nem estava definida, e muito menos disponível para todos, como hoje. Os que assim fizeram, acabaram retornaram para a Igreja de Cristo, como aconteceu neste caso e em muitos outros. Pois o que foi Verdade sempre não pode ser mentira agora.

Peçamos a Deus que nossos irmãos ditos "evangélicos" sejam libertos do subjetivismo e do engano. E que mais e mais católicos busquem conhecer melhor o tesouro que possuem na Igreja Católica, e dêem o seu testemunho sempre que tiverem oportunidade.
Fonte principal: http://ofielcatolico.blogspot.com.br/

Referência:

[1] INÁCIO, de Antioquia. Padres Apostólicos - Carta aos Romanos. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides M. 2ª. Edição. São Paulo: Paulus, 1995. (Patrística; 1). p. 103-108;

[2] CLEMENTE, Bispo de Roma. Padres Apostólicos, Primeira Carta de Clemente aos Coríntios. Tradução Ivo Storniolo, Euclides M. Balancin. São Paulo: Paulus, 1995. (Patrística, 1). p. 5-70;
[3] EUSEBIO, Bispo de Cesaréia. História Eclesiástica. Tradução Monjas Beneditinas do Mosteiro de Maria Mãe de Cristo. São Paulo: Paulus, 2000 (Patrística; 15).







segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Humor, política e 'sem-querer-querendo'


Chesterton dizia que o problema do homem moderno não é apenas que ele deixou de crer em Deus, mas que, deixando de crer Nele, passou a acreditar em qualquer coisa.

Tempos difíceis. Vê-se hoje a situação dos cristãos: amargamos, por debaixo do silêncio criminoso dos veículos midiáticos, a soma de 100.000 assassinados por motivo de confissão religiosa em todo o mundo. 
Tempos difíceis. Estamos de visita em casa. O lobo, sim, o lobo. Para além da oposição externa, há os corruptores internos. 

Sabe-se que o cristão não pode, (e já) por definição, andar de mãos dadas com esta massa indigesta que é o mundo moderno, cujas características mais determinantes assentam sobre a negação mesma da religiosidade autêntica e o materialismo como pretenso traço de todo o repertório de ideias e ações humanas. Qualquer discordância, qualquer opinião contrastante que salte através do materialismo enquanto única perspectiva razoável de compreensão da realidade, é indiscriminadamente rechaçada como loucura ou - palavra de ordem nos dias atuais - como “fundamentalismo”. 
Nesse contexto, o recente caso do Porta dos Fundos é emblemático: os cristãos, sentindo-se vilipendiados pelo “humor” do grupo, são tidos em conta de destemperados, maldosos e radicais. Pois bem. De minha parte, digo que os cristãos tem todo o direito de se opor à infeliz esquete publicada pelo grupo, e explico. 
Alguns defensores do Porta dos Fundos, ao julgarem excessiva a reação dos cristãos, dizem: “mas, trata-se apenas de humor”. Tudo bem. Contudo, coloquemo-nos no lugar dos católicos, por exemplo: que acharíamos, sinceramente, de termos nossas mães referidas num vídeo como adúlteras ou coisas do tipo? Isso porque, para nós católicos, a Mãe de Jesus também É nossa Mãe - e, isso, há cerca de dois mil anos divulgamos, para que os "desavisados" não aleguem contra nós alguma negligência propagandística. Os mais liberais, autoproclamados menos “moralistas”, podem achar exagero, intolerância, mas, ainda assim, convenhamos... pode-se compreender quando alguns católicos, que, em geral, cuidadosamente se abstêm de xingar as titias, primas e genitoras alheias, não achem “tão legal assim” estar numa situação dessas. 

Trocando em miúdos: não é por falta de razoabilidade que os católicos não gostaram do vídeo do grupo. Ponto. Apesar disso, este é o ponto que menos interessa para a legitimidade pública de uma confrontação dos cristãos ao que o grupo fez. O mais importante diz respeito à atenção ao uso do humor como política cultural.

Ian SBF, um dos diretores do Porta, numa entrevista ao jornal O Globo, disse que "a intenção do vídeo não era atacar a fé dos cristãos, apenas fazer rir...". Com isso, o grupo se isenta e prova, por assim dizer, o exagero dos segmentos religiosos que tão veementemente se contrapuseram ao vídeo. Só que ele não pára por aí. Prossegue: “Mas até ficamos contentes com isso, porque acaba gerando discussão. O assunto parece velho, mas até hoje é necessário debater sobre os benefícios e malefícios das religiões”. 

Ora!, sinceramente, os membros do Porta dos Fundos tem de se decidir. Ou estão apenas fazendo humor “inofensivo” - e os religiosos passaram do ponto - ou há uma crítica, um afetado componente político-cultural intrínseco ao trabalho do grupo (ao menos neste caso), o que automaticamente legitima a resposta dos religiosos (mesmo que não seja uma resposta somente no nível cultural, o que seria até mais recomendável). Muitos artistas fizeram piadas com a religião (o que, pessoalmente, não recomendo, mas entendo que muitos não partilham deste mesmo pensamento), e a sociedade não viu os religiosos darem chilique. O humor como ideologia pode ser combatido sem problemas (uma vez que, nesse caso, o que está substancialmente em jogo é seu conteúdo político), denunciado na sutileza de suas expressões e flagrado em sua pretensa onipotência. Dito de outro modo, não se trata de uma limitação do humor em si mesmo, mas apenas de ressaltar que o seu discurso deve ser posto à luz, para que o observador distinga de alguma maneira o elemento lúdico do político; não é separar as piadas da política; é chamar atenção para o fato de que aquelas não podem servir para produzir o efeito que a fala do Ian sugere, mesmo que inconscientemente: a unilateralidade do discurso no qual alguém se pode valer do humor para atacar, sem ter de responder pelo que fala.

O pior do humor não é a crítica inconfessada (que é uma poderosa arma), mas é querer a invencível dialética coxa. O precipício moral de qualquer atividade humana repousa na imputabilidade do "sem-querer-querendo" das ações.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Eu vos explico a Teologia da Libertação

Leonardo Boff (direita) Papa Emérito Bento XVI (esquerda)

Conteúdo Retirado do site da Canção Nova.

O Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa "Emérito" Bento XVI, quando Prefeito da S. Congregação para a Doutrina da Fé, escreveu uma exposição sobre a Teologia da Libertação em sua forma extremada, em 18/03/84; partindo das respectivas premissas e realçando os conceitos característicos do sistema, o autor mostra que a Teologia da Libertação não trata apenas de desenvolver a ética social cristã em vista da situação sócio-econômica da América Latina, mas revolve todos as concepções do Cristianismo: doutrina da fé, constituição da igreja, Liturgia, catequese, opções morais, etc. É de crer que “a gravidade da Teologia da Libertação não seja avaliada de modo suficiente; não entra em nenhum esquema de heresia até hoje existente”; é a subversão radical do Cristianismo, que torna urgente “o problema do que se possa e se deva fazer frente a ela”.É importante que o público esteja consciente de que a Teologia da Libertação não é a extensão das promessas do Cristianismo aos problemas morais suscitados pelas condições sócio-econômicas da América Latina, mas é uma nova versão do racionalismo de Rudolf Bultmann e do marxismo, que utiliza a linguagem dogmática e ascética do patrimônio antigo da fé e se reveste de aspectos de mística cristã. Aos o Cardeal Joseph Ratzinger, fez uma explanação do que é a Teologia da Libertação. Tal documento é de notável importância, pois se deriva de um sábio teólogo encarregado, em Roma, precisamente da Congregação que acompanha a fé e os desvios da fé em nossos dias. (D. Estevão Bettencourt)(Fonte: Pergunte e Responderemos – Ano XXV – No 276 – 1984 )

EU VOS EXPLICO A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
Cardeal Joseph Ratzinger

Para esclarecer a minha tarefa e a alinha intenção, com relação ao tema, parecem-me necessárias algumas observações preliminares: 1) A teologia da libertação é fenômeno extraordinariamente Complexo. É possível formar-se um conceito da teologia da libertação segundo o qual ela vai das posições mais radicalmente marxistas até aquelas que propõem o lugar apropriado da necessária responsabilidade do cristão para com os pobres e os oprimidos no contexto de uma carreta teologia eclesial, como fizeram os documentos do CELAM, de Medellin a Puebla.

1O presente número já estava impresso quando foi publicado o documento da Santa Sé sabre a Teologia da Libertação. Será objeto de estudos no próximo número. Neste nosso texto, usaremos o conceito “teologia da libertação” em sentido mais restrito: sentido que compreende apenas aqueles teólogos que, de algum modo, fizeram própria a opção fundamental marxista. Mesmo aqui existem, nos particulares, muitas diferenças que é impossível aprofundar nesta reflexão geral. Neste contexto posso apenas tentar pôr em evidência algumas linhas fundamentais que, sem desconhecer as diversas matrizes, são muito difundidas e exercem certa influência mesmo onde não existe teologia da libertação em sentido estrito. 2) Com a análise do fenômeno da teologia da libertação torna-se manifesto um perigo fundamental paro a fé da Igreja. Sem dúvida, é preciso ter presente que um erro não pode existir se não contém um núcleo de verdade. De fato, um erro é tanto mais perigoso quanto maior for a proporção do núcleo de verdade assumida. Além disso, o erro não se poderia apropriar daquela parte de verdade, se essa verdade fosse suficientemente vivida e testemunhada ali onde é o seu lugar, isto é, na fé da Igreja. Por isso, ao lado da demonstração do erro e do perigo da teologia da libertação, é preciso sempre acrescentar a pergunta: que verdade se esconde no erro e como recupera-la plenamente?

3) A teologia da libertação é um fenômeno universal sob três pontos de vista:

a) Essa teologia não pretende constituir-se como um novo tratado teológico ao lado dos outros já existentes; não pretende, por exemplo, elaborar novos aspectos da ética social da Igreja. Ela se concebe, antes, como uma nova hermenêutica da fé cristã, quer dizer, como nova forma de compreensão e de realização do cristianismo na sua totalidade. Por isto mesmo muda todas as formas da vida eclesial: a constituição eclesiástica, a liturgia, a catequese, as opções morais;

b) A teologia da libertação tem certamente o seu centro de gravidade na América Latina, mas não é, de modo algum, fenômeno exclusivamente latino-americano. Não se pode pensá-la sem a influência determinante de teólogos europeus e também norte-americanos. Além do mais, existe também na Índia, no Sri Lanka, nas Filipinas, em Taiwan, na África – embora nesta última esteja em primeiro plano a busca de uma “teologia africana”. A união dos teólogos do Terceiro Mundo é fortemente caracterizada pela atenção prestada aos temas da teologia da libertação;

c) A teologia da libertação supera os limites confessionais. Um dos mais conhecidos representantes da teologia da libertação, Hugo Assman, era sacerdote católico e ensina hoje como professor
em uma Faculdade protestante, mas continua a se apresentar com o pretensão de estar acima das fronteiras confessionais. A teologia da libertação procura criar, já desde as suas premissas, uma nova universalidade em virtude da qual as separações clássicas da Igreja devem perder a sua Importância, I. O Conceito de Teologia da Libertação e os Pressupostos de sua Gênese

Essas observações preliminares, entretanto, já nos introduziram no núcleo do tema. Deixam aberta, porém, a questão principal: o que é propriamente o teologia da libertação? Em uma primeira tentativa de resposta, podemos dizer: a teologia da libertaçãopretende dar nova interpretação global do Cristianismo; explica o Cristianismo como uma práxis de libertação e pretende constituir-se, ela mesma, um guia para tal práxis. Mas assim como, segundo essa teologia, toda realidade é política, também a libertação é um conceito político e o guia rumo à libertação deve ser um guia para a ação política. “Nada resta fora do empenho político. Tudo existe com uma colocação política” (Gutierrez). Uma teologia que não seja “prática (o que significa dizer “essencialmente política”) é considerada “idealista” e condenada como irreal ou como veículo de conservação dos opressores no poder, Para um teólogo que tenha aprendido a sua teologia na tradição clássica e que tenha aceitado a sua vocação espiritual, é difícil imaginar que seriamente se possa esvaziar a realidade global do Cristianismo em um esquema de práxis sócio-político de libertação. A coisa é, entretanto, mais difícil, já que os teólogos da libertação continuam a usar grande parte da linguagem ascética e dogmática da Igreja em clave nova, de tal modo que aqueles que lêem e que escutam partindo de outra visão, podem ter a impressão de reencontrar o patrimônio antigo com o acréscimo apenas de algumas afirmações um pouco estranhas mas que, unidos a tanta religiosidade, não poderiam ser tão perigosas. Exatamente a radicalidade da teologia da libertação faz com que a sua gravidade não seja avaliada de modo suficiente; não entra em nenhum esquema de heresia até hoje existente, A sua colocação, já de partida, situa-se fora daquilo que pode ser colhido pelos tradicionais sistemas de discussão. Por isto tentarei abordar a orientação fundamental da teologia da libertação em duas etapas: primeiramente é necessário dizer algo acerca dos pressupostos que a tornaram possível; a seguir, desejo aprofundar alguns dos conceitos base que permitem conhecer algo da estrutura da teologia da libertação. Como se chegou a esta orientação completamente nova do pensamento teológico, que se exprime na leolog1a da libertação? Vejo principalmente três: fatores que a tornaram possível.

1) Após o Concílio, produziu-se uma situação teológica nova:a) Surgiu a opinião de que a tradição teológica existente até então não era mais aceitável e, por conseguinte, se deviam procurar, o partir da Escritura e dos sinais dos tempos, orientações teológicas e espirituais totalmente novas;

b) A idéia de abertura ao mundo e de compromisso no mundo transformou-se freqüentemente em uma fé ingênua nas ciências; uma fé que acolheu as ciências humanas como um novo evangelho, sem querer ,reconhecer os seus limites e problemas próprios. A psicologia, a sociologia e a interpretação marxista da história foram considerados como cientificamente seguras e, a seguir, como instâncias não mais contestáveis do pensamento cristão;

c) A critica da tradição por parte da exegese evangélica moderna, especialmente o de Bultmann e da sua escola, tornou-se uma, instância teológica inamovível que barrou a estrada às formas até então válidas da teologia, encorajando assim também novas construções.

2) A situação teológica assim transformada coincidiu com uma situação da historia espiritual também ela modificada. Ao final da fase de reconstrução após a segunda guerra mundial, fase que coincidiu pouco mais ou menos com o término do Concilio, produziu-se no mundo ocidental um sensível vazio de significado, ao qual a filosofia existencialista ainda em voga não estava em condições de dar alguma resposta. Nesta situação, as diferentes formas do neo-marxismo transformaram-se em um impulso moral e, ao mesmo tempo, em uma promessa de significado que parecia quase irresistível à juventude universal. O marxismo, com as acentuações religiosas de Bloch e as filosofias dotadas de rigor científico de Adorno, Harkheimer, Habernas e Marcuse, ofereceram modelos de ação com os quais alguns pensadores acreditavam poder responder ao desafio da miséria no mundo e, ao mesmo tempo, poder atualizar o sentido correto da mensagem bíblica.

3) O desafio moral da pobreza e da opressão não se podia mais ignorar, no momento em que a Europa e a América do Norte atingiam uma opulência até então desconhecida. Este desafio exigia evidentemente nova respostas, que não se podiam encontrar na tradição existente até aquele momento. A situação teológica e filosófica mudada convidava expressamente a buscar o resposta em um cristianismo que se deixasse regular pelos modelos da esperança, aparentemente fundados cientificamente, das filosofias marxistas,

II. A Estrutura Gnoseológica Fundamental do Teologia do Libertação

Esta resposta se apresenta totalmente diversa nas formas particulares de teologia da libertação, teologia da evolução, teologia política, etc. Não pode, pois, ser apresentada globalmente, Existem, no entanto, alguns conceitos fundamentais que se repetem continuamente nas diferentes variações e exprimem comuns intenções de fundo. Antes de passar aos conceitos fundamentais do conteúdo, é necessário fazer uma observação a cerca dos elementos estruturais do teologia da libertação. Paro tal, podemos retomar o que já afirmamos acerca da situação teológica mudada após o Concilio. Como já disse, leu-se a exegese de Bultmann e da sua escola como um enunciado da “ciência” sobre Jesus, ciência que devia obviamente ser considerado como válida. O “Jesus histórico” de Bultmann, entretanto, apresentava-se separado por um abismo (o próprio Bultmann fala de Graben, fosso) do Cristo da fé. Segundo Bultmann, Jesus pertence aos pressupostos do Novo Testamento, permanecendo. porém, encerrado no mundo do judaísmo. O resultado final dessa exegese consistiu em abalar a credibilidade histórica dos Evangelhos: o Cristo da tradição eclesial e o Jesus histórico apresentado pela ciência pertencem evidentemente a dois mundos diferentes. A figura de Jesus foi erradicada da sua colocação na tradição por ação da ciência, considerada como instância suprema; deste modo, por um lado, a tradição pairava como algo de irreal no vazio, e, por outro, devia-se procurar para a figura de Jesus uma nova interpretação e um novo significado. Bultmann, portanto, adquiriu importância não tanto pelas suas afirmações positivas quanto pelo resultado negativo da sua crítica: o núcleo da fé, a cristologia, permaneceu aberto a novas interpretações porque os seus enunciados originais tinham desaparecido, na medida em que eram considerados historicamente insustentáveis. Ao mesmo tempo desautorizava-se o magistério da Igreja, na medida em que o consideravam preso a uma teoria cientificamente insustentável e, portanto, sem valor como instância cognoscitiva sobre Jesus. Os seus anunciados podiam ser considerados somente como definições frustadas de uma posição cientificamente superada.

Além disso, Bultmann foi importante para o desenvolvimento posterior de uma segunda palavra-chave. Ele trouxe à moda o antigo conceito de hermenêutica, conferindo-lhe uma dinâmica nova. Na palavra “hermenêutica” encontra expressão a idéia de que uma compreensão real dos textos históricos não acontece através de uma mera interpretação histórica; mas toda interpretação histórica inclui certas decisões preliminares. A hermenêutica tem a função de “atualizar”, em conexão com a determinação de dado histórico. Nela, segundo o terminologia clássica, se trata de um “fusão dos horizontes” entre “então” [“naquele tempo”] e o “hoje”. Por conseguinte, ela suscita a pergunta: o que significa o então (“naquele tempo”), nos dias de hoje? O próprio Bultmann respondeu a esta pergunta servindo-se da filosofia de Heidegger e interpretou, deste modo, a Bíblia em sentido existencialista. Tal resposta, hoje, não apresenta mais algum interesse; neste sentido Bultmann foi superado pela exegese atual. Mas permaneceu a separação entre a figura de Jesus da tradição clássica e a idéia de que se pode e se deve transferir essa figura ao presente, através de uma nova hermenêutica.

A este ponto, surge o segundo elemento, já mencionado, da nossa situação: o novo clima filosófico dos anos sessenta. A análise marxista do história e da sociedade foi considerada, nesse ínterim, conto a única dotada de caráter “cientifico”, isto significa que o mundo é interpretado à luz do esquema da luta de classes e que a única escolha possível é entre capitalismo e marxismo. Significa, além disso, que toda a realidade é política e que deve ser justificada politicamente. O conceito bíblico do “pobre” oferece o ponto de partida para a confusão entre a imagem bíblica da história e a dialética marxista; esse conceito é interpretado com a idéia de proletariado em sentido marxista e justifica também o marxismo como hermenêutica legitima para a compreensão da Bíblia. Ora, Segundo essa compreensão, existem, e só podem existir, duas opções; pai isso, contradizer essa interpretação da Bíblia não é senão expressão do esforço da classe dominante para conservar o próprio poder, Gutierrez afirma: “A luta de classes é um dado de fato e a neutralidade acerca desse ponto é absolutamente impossível”. A partir dai, torna-se impossível até a intervenção do magistério eclesiástico: no caso em que este se opusesse a tal interpretação do Cristianismo demonstraria apenas estar ao lado dos ricos e dos dominadores e contra os pobres e os sofredores, isto é, contra o próprio Jesus, e, na dialético da história, aliar-se-ia à parte negativo.

Essa decisão, aparentemente “científica” e “hermeneuticamente” indiscutível, determina por si o rumo da ulterior interpretação do Cristianismo, seja quatro às instancias interpretativas, seja quatro aos conteúdos interpretados. No que diz respeito as instâncias interpretativas, os conceitos decisivos são: povo, comunidade, experiência, história. Se até então a Igreja, isto é, a Igreja Católica na Sua totalidade, que, transcendendo tempo e espaço, abrange os leigos (sensus fidei) e a hierarquia (magistério), fora a instância hermenêutica fundamental, hoje tornou-se a “comunidade” tal instância. A vivência e as experiências da comunidade determinam agora a compreensão e a interpretação da Escritura. De novo pode-se dizer, aparentemente de maneira muito científica, que a figura de Jesus, apresentada nos Evangelhos, constitui uma síntese de acontecimentos e interpretações da experiência de comunidades particulares, onde no entanto a interpretação é muito mais importante do que o acontecimento, que, em si, não é mais determinável. Essa síntese original de acontecimento e interpretação pode ser dissolvida e reconstruída sempre de novo: a comunidade “interpreta” com a sua “experiência” os acontecimentos e encontra assim sua “práxis”. Esta idéia, podemos encontra-la em modo um tanto diverso do conceito de povo, com o qual se transformou a acentuação conciliar da idéia de “povo de Deus” em mito marxista. As experiências do “povo” explicam a Escritura. “Povo” torna-se assim um conceito aposto ao de “hierarquia” e em antítese a todas as instituições indicadas como forças da opressão.

Afinal, é “povo” quem participa da “lula de classes”; a “igreja popular” acontece em oposição à Igreja hierárquica. Por fim, o conceito de “história” torna-se instância hermenêutica decisiva. A opinião, considerada cientificamente segura e irrefutável, de que a Bíblia raciocine em termos exclusivamente de história da salvação, e portanto de maneira anti-metafísica. permite a fusão do horizonte bíblico com a idéia marxista da história que procede dialeticamente como autêntica portadora de salvação; a história é o autêntica revelação e portanto a verdadeira instância hermenêutica da interpretação bíblica. Tal dialético é apoiado, algumas vezes, pela pneumatologia. Em todo caso, também esta última, no magistério que insiste em verdades permanentes, vê uma instância inimiga do progresso, dado que pensa “metafisicamente” e assim contradiz a “história”. Pode-se dizer que o conceito de história absorve o conceito de Deus e de revelação. A “historicidade” da Bíblia deve justificar o seu papel absolutamente predominante e, portanto, deve legitimar, ao mesmo tempo, a passagem para a filosofia materialista-marxista, na qual a história assumiu a função de Deus.

III. Conceitos Fundamentais da Teologia da Libertação

Com isto, chegamos aos conceitos fundamentais do conteúdo da nova interpretação do Cristianismo. Uma vez que os contextos nos quais aparecem os diversos conceitos são diferentes, gostaria de citar alguns deles, sem a pretensão de esquematiza-los. Comecemos pela nova interpretação da fé, da esperança e da caridade. Com relação a fé, por exemplo, J. Sobrinho afirma: a experiência que Jesus tem de Deus é radicalmente histórica. “A sua fé converte-se em fidelidade”. Por isso Sobrinho substitui fundamentalmente o fé pela “fidelidade à história” (fidelidad a la historia, 143-144). Jesus é fiel à profunda convicção de que o mistério da vida do homem … é realmente o último … (144). Aqui produz-se aquela fusão entre Deus e história que dá a Sobrinho a possibilidade de conservar para Jesus a fórmula de Calcedônia, ainda que com um sentido completamente mudado; pode-se ver como os critérios clássicos da ortodoxia não são aplicáveis à análise dessa teologia, Ignacio Ellacuria, na capa do livro sobre este assunto, afirma: Sobrinho “diz de novo … que Jesus é Deus, acrescentando, porém, imediatamente, que o Deus verdadeiro é somente aquele que se revela historicamente em Jesus e nos pobres, que continuam a sua presença. Somente quem mantém unidas essas duas afirmações, é ortodoxo …“.

A esperança é interpretada como “confiança no futuro” e como trabalho pelo futuro; com isso elo é subordinado novamente ao predomínio da história das classes. “Amor” consiste na “opção pelos pobres”, isto é, coincide com a opção pela luta de classes. Os teólogos da libertação sublinham com força, diante do “falso universalismo”, a parcialidade e o carater partidário da opção cristã; tomar partido é, segundo eles, requisito fundamental de uma correta hermenêutica dos testemunhos bíblicos. Na minha opinião, aqui se pode reconhecer muito claramente a mistura entre uma verdade fundamental do Cristianismo e uma opção fundamental não cristã, que torna o conjunto tão sedutor: o sermão da montanha é, na verdade, a escolha por parte de Deus a favor dos pobres. Mas a interpretação dos pobres no sentido da dialética marxista da histórla e a interpretação da escolha partidária no sentido da lula de classes é um salto “eis allo genos” (grego: para outro gênero), no qual as coisas contrarias se apresentam como idênticas.

O conceito fundamental da pregação de Jesus é o de “reino de Deus”. Este conceito encontra-se também no centro das teologia da libertação, lido porém no contexto da hermenêutica marxista. Segundo J. Sobrinho, o reino não deve ser compreendido espiritualmente, nem universalmente, no sentido de uma reserva escatogicamente abstrata. Deve ser compreendido em forma partidária e voltado para a práxis. Somente a partir da práxis de Jesus, e não teoricamente, é possível definir o que seria o reino: trabalhar na realidade histórica que nos circunda para transformá-la no reino (166). Aqui ocorre mencionar também uma idéia fundamental de certa teologia pós-conciliar que impulsionou nessa direção. Muitos apregoaram que, segundo o Concílio, se deveriam superar todas as formas de dualismo: o dualismo de corpo e alma, de natural e sobrenatural, de imanência e transcendência, de presente e futuro. Após o desmantelamento desses duolismos, resta apenas a possibilidade de trabalhar por um reino que se realize nesta história e em sua realidade político-econômica.

Mas justamente dessa forma deixou-se de trabalhar pelo homem de hoje e se começou a destruir o presente, a favor de um futuro hipotético: assim produziu-se imediatamente o verdadeiro dualismo.

Neste contexto gostaria de mencionar também a interpretação, impressionante e definitivamente espantosa, que Sobrinho dá da morte e da ressurreição. Antes do mais, ele estabelece, contra as concepções universalistas, que a ressurreição é, em primeiro lugar, uma esperança para aqueles que são crucificados; estes constituem a maioria dos homens: todos aqueles milhões aos quais a injustiça estrutural se impõe como uma lenta crucifixão (176 e seguintes). O crente, no entanto, participa também do senhorio de Jesus sobre a história, através da edificação do reino, isto é, na luta pela justiça e pela libertação integral, na transformação das estruturas injustas em estruturas mais humanas. Esse senhorio sobre o história é exercitado ao se repetir o gesto dê Deus que ressuscita Jesus, isto é, dando novamente vida aos crucificados da história (181). O homem assumiu o gesto de Deus e aqui a transformação total da mensagem bíblica se manifesta de maneiro quase trágica, se se pensa em como essa tentativa de imitação de Deus se desenvolveu e se desenvolve ainda.

Gostaria de citar apenas alguns outros conceitos: o êxodo se transforma em uma imagem central da história da salvação; o mistério pascal é entendido como um símbolo revolucionário e, portanto, a Eucaristia é interpretada como uma festa de libertação no sentido de uma esperança político-messiânica e da sua práxis. A palavra redenção é substituída geralmente por libertação, a qual, por sua vez, é compreendida, no contexto da história e da luta de Classes, como processo de libertação que avança, por fim, é fundamental também a acentuação da práxis: a verdade não deve ser compreendido em sentido metafísico; trata-se de “idealismo”. A verdade realiza-se na história e na práxis, A ação é a verdade. Por conseguinte, também as idéias que se usam para ação, em última instância são intercambiáveis. A única coisa decisiva é a práxis. A práxis torna-se, assim, o única .e verdadeira ortodoxia. Desta forma justifica-se um enorme afastamento dos textos bíblicos: a crítica histórica liberta da interpretação tradicional, que aparece como não-científica. Com relação ó tradição, atribui-se importância ao máximo rigor cientifico na linha de Buftmann. Mas os conteúdos da Bíblia, determinados historicamente, não podem, por sua vez, ser vinculantes de modo absoluto. O instrumento para a interpretação não é, em última análise, a pesquisa histórica, mas, sim, a hermenêutica da história, experimentada na comunidade, isto é, nos grupos políticos, sobretudo dado que a maior parte dos próprios conteúdos bíblicos deve ser considerada como produto de tal hermenêutica comunitária.

Quando se tenta fazer um julgamento geral, deve-se dizer que, quando alguém procura compreender as opções fundamentais da teologia da libertação não pode negar que o conjunto contém uma lógica quase incontestável. Comi as premissas da critica bíblica e da hermenêutica fundada na experiência, de um lado, e da análise marxista da história, de outro, conseguiu-se criar uma visão de conjunto do cristianismo que parece responder plenamente tanto às exigências da ciência, quanto aos desafios morais dos nossos tempos. E, portanto, impõe-se aos homens de modo imediato o tarefa de fazer do Cristianismo um instrumento da transformação concreta do mundo, o que pareceria uni-lo a todas as forças progressistas da nossa época. Pode-se, pois, compreender como esta nova interpretação do Cristianismo atraia sempre mais teólogos, sacerdotes e religiosos, especialmente no contexto dos problemas do terceiro mundo. Subtrair-se a ela deve necessariamente aparecer aos olhos deles como uma evasão da realidade, como uma renúncia à razão e à moral. Porém, de outra parte, quando se pensa o quanto seja radical a interpretação do Cristianismo que dela deriva, torna-se ainda mais urgente o problema do que se possa e se deva fazer frente a ela.

* * *

À guisa de comentário, parece oportuno salientar os seguintes pontos:

1) A Teologia da Libertação não é um novo tratado teológico ao lado de outros já existentes, mas é uma nova interpretação do Cristianismo, que revira radicalmente as verdades da fé, a constituição da Igreja, a Liturgia, a catequética e as opções morais.

2) Todos os valores e toda a realidade são considerados do ponto de vista político. Uma teologia que não seja essencialmente política, é encarada como fator de conservação dos apressares no poder.

3) A dificuldade de se perceber esse caráter subversiva da Teologia da Libertação está, em grande parte, no fato de que os seus arautos continuam a usar a linguagem ascética e dogmática da Igreja, embora em chave nova. Isto dá aos observadores a impressão de que estão diante do patrimônio da fé acrescido de algumas afirmações religiosas que não podem ser perigosas.

4) A gravidade da Teologia da Libertação não é suficientemente avaliada; não entra em nenhum esquema de heresia até hoje existente.

5) O cristão não pode ser, de forma alguma, insensível à miséria dos povos do Terceiro Mundo. Todavia, para acudir cristãmente a tal situação, não lhe é necessário adotar um sistema de pensamento que é anticristão como a Teologia da Libertação; existe a doutrina social da Igreja, desenvolvida pelos Papas desde Leão XIII até João Paulo II de maneira cada vez mais incisiva e penetrante. Se fosse posta em prática, eliminaria graves males de que sofrem os homens, sem disseminar o ódio e a luta de classes. (D. Estevão Bettencourt)

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

I Macabeus Capitulo 2

Na bíblia Católica "Aqui"




I Macabeus 2


"Eu, meus filhos e meus irmãos continuaremos seguindo a aliança de nossos pais. Deus nos guarde de abandonarmos sua Lei e seus mandamentos. ... não nos desviaremos de nossa religião nem para a direita nem para a esquerda", foram as palavras de Matatias diante da proposta de abandonar o Deus Verdadeiro e sua Lei em troca de prestígio e honrarias.

Que decisão difícil deste santo homem de Deus! Ou melhor, que grande amor deste santo homem por Deus! A Escritura garante que ele "ardia em zelo pela lei"! Decisão, amor e zelo que o levaram a gritar aquelas belas palavras. Nenhum outro judeu ali presente o fez, estavam todos prontos para oferecer sacrifícios a deuses estranhos. Matatias estava afastado com sua família. Afastado da apostasia, junto do Deus Verdadeiro! Mas, vendo que ele não iria, espontaneamente, abrir mão da observância da Sagrada Lei; o demônio ousou provocá-lo, ousou dirigir-se diretamente a ele: "oferecei sacrifícios a deuses estranhos e vos serão dados prestígio, honra, presentes".
A antiga serpente não esperava que o amor de Matatias pelo Deus Único fosse maior do que os presentes que ele tinha proposto. E o santo homem respondeu com voz forte: não nos desviaremos de nossa religião. Que confiança este homem nutria em si! Que fé! Não foi incrédulo ao ponto de pensar: "Farei o sacrifício para não ser morto". Foi esperançoso ao ponto de dizer: "Venha Deus em nosso socorro para que não abandonemos sua lei e seus mandamentos". Depois disso, destruiu o altar, matou os delegados e o apóstata, e foi, como arauto, levando a verdade pelos povos e destruindo a apostasia.
No fim de sua vida, disse a seus filhos: "Agora, meus filhos, sede zelosos pela Lei e dai a vida pela aliança de nossos pais". Os mártires, como perfeitos obedientes às ordens de Deus, ouviram o apelo de Matatias. Estêvão, Perpétua, Luzia, Sebastião, Maximiliano Kolbe, Teresa Benedita da Cruz, Inácio de Antioquia... Quantos deram suas vidas para, com o ardor de Matatias, garantir a fidelidade à Lei e aos mandamentos! Quantos hoje desprezam o sangue destes homens e mulheres, fazendo questão de "abrir-se para novas experiências"! A estes que ouvem a voz da serpente: ainda há tempo para mudar de postura. Aos que, a exemplo daqueles, querem ouvir a voz do Senhor: tomemos a Cruz.

Ó Glorioso Exército dos Mártires do Senhor, rogai por nós, para que sejamos dignos das promessas de Cristo!

Ad IESVM per MARIAM!


Texto escrito por: Jaynnoã Fernandes