Google+

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Invasão de "bispos"!


1. Introdução

Com o surgimento do Protestantismo Pentecostal, os fundadores de muitas denominações resolveram intitular-se "bispos". Será que esses "bispos” pentecostais são Bispos de fato ou praticam falsidade ideológica?

2. A origem da hierarquia da Igreja

Em documentos do início do séc II é possível observarmos que a Igreja primitiva já estava organizada hierarquicamente em bispos, presbíteros e diáconos.

O Bispo era o chefe de uma diocese, isto é, de um conjunto de paróquias geograficamente organizadas. Cada paróquia tinha como ministro um presbítero. Este era o sacerdote responsável por ministrar os Sacramentos e orientar os fiéis na doutrina. Ele normalmente era auxiliado por diáconos.

Tudo isto é testificado, por exemplo, nas sete cartas de Santo Inácio de Antioquia [1] datadas de 107 dC (escritas antes da organização final dos livros da Bíblia). Santo Inácio foi Bispo de Antioquia e discípulo pessoal dos Apóstolos Pedro e Paulo.

3. O Episcopado tem origem na Sucessão dos Apóstolos

Episcopado é o nome que se dá ao ministério do Bispo. O Episcopado tem origem no ministério dos Apóstolos, isto é, foi o próprio Senhor Jesus Cristo que instituiu os Apóstolos como Bispos da Sua Igreja, que ele mesmo instituiu sobre a Terra (Mt 16, 18). Com efeito, a Bíblia ensina que Nosso Senhor Jesus Cristo deu o governo da Igreja aos Santos Apóstolos: [i]"Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e, quem me rejeita, rejeita Àquele que me enviou"[i] (Lc 10, 16).

Eram eles, os Apóstolos, aqueles que estariam agora sentados na Cadeira de Moisés, no lugar dos escribas e Fariseus (cf. Mt 23,2-3). Por isso, o Cristo deu a eles a autoridade que outrora foi dada a Moisés: ligar e desligar,atar e desatar, com o sentido de unir e desunir: definir o que é Certo e o que é Errado em termos de doutrina verdadeiramente evangélica (cf. Mt 18,18). Por essa razão São Paulo ensina que “a Igreja do Deus Vivo é a Coluna e o Fundamento da Verdade” (cf. 1Tm 3,15).

Como os Apóstolos não permaneceriam na terra para sempre, e como o mundo é muito grande, nas várias regiões e nações aonde o Evangelho ia sendo pregado, iam instituindo novos Bispos, que deveriam cuidar do rebanho de Cristo na ausência deles, os Apóstolos - e após a morte deles também. Afinal, Jesus prometeu que estaria com a sua Igreja até o fim dos tempos (cf. Mt 28, 20).

Um dos testemunhos históricos mais antigos desta realidade está na Primeira Carta de São Clemente aos Coríntios (2), escrita por volta do ano de 90 d.C (mais de dois séculos antes da composição final da Bíblia Cristã). Clemente, 4º. Bispo de Roma na sucessão de Pedro, escreveu:

"(42)Os Apóstolos receberam do Senhor Jesus Cristo o Evangelho que nos pregaram. Jesus Cristo foi enviado por Deus. Cristo, portanto vem de Deus, e os Apóstolos vêm de Cristo. As duas coisas, em ordem, provêm da Vontade de Deus. Eles receberam instruções e, repletos de certeza por causa da ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, fortificados pela Palavra de Deus e com plena certeza dada pelo Espírito Santo, saíram anunciando que o Reino de Deus estava para chegar. Pregavam pelos campos e cidades, e aí produziam suas primícias, provando-as pelo Espírito, a fim de instituir com elas Bispos e Diáconos dos futuros fiéis. Isso não era algo novo: desde há muito tempo, a Escritura falava dos Bispos e dos Diáconos. Com efeito, em algum lugar está escrito: ‘Estabelecerei seus bispos na justiça e seus diáconos na fé’."

"(44)Nossos Apóstolos conheciam, da parte do Senhor Jesus Cristo, que haveria disputas por causa da função episcopal. Por esse motivo, prevendo exatamente o futuro, instituíram aqueles de quem falávamos antes, e ordenaram que, por ocasião da morte desses, outros homens provados lhes sucedessem no ministério."

Segundo a o ensinamento que os Apóstolos diretos de Jesus Cristo comunicaram aos seus discípulos, os Bispos da Igreja são sucessores diretos dos Apóstolos. É exatamente por isso que, fora da sucessão dos Santos Apóstolos, não há nem pode haver Episcopado verdadeiro: logo, não há Igreja de fato.






4. Testemunhos Históricos da Sucessão dos Apóstolos
Alguns membros de algumas das novas seitas ditas "evangélicas" chegam ao extremo de alegar que a Sucessão Apostólica é algo inventado pela Igreja Católica para sustentar que só ela possui Bispos e presbíteros verdadeiros. Nada mais distante da realidade, por muitos motivos:

Em primeiro lugar, a Igreja Católica não alega que só ela possui Bispos e Presbíteros verdadeiros. Ela reconhece a validade dos ministros da Igreja Ortodoxa, afinal, os Bispos ortodoxos são também sucessores dos Apóstolos, assim como os Bispos católicos. Em segundo lugar, é no mínimo curioso notar como o subjetivismo protestante tenta inverter os fatos, querendo "reinventar" até a História! Não foi a Igreja Católica que "inventou" a Sucessão Apostólica: o protestantismo é que precisa inventar que a Sucessão dos Apóstolos não é um fato (ignorando a farta documentação existente, os registros historiográficos, a arqueologia, a própria História, enfim) pois esta é a maior prova de que as tais "igrejas" ditas "evangélicas" não são igrejas de fato.


“A História Eclesiástica”[2], de Eusébio de Cesaréia, é um dos mais rigorosos registros dos acontecimentos dos primeiros quatro séculos da Igreja, incluindo a realidade histórica da sucessão dos Apóstolos.

5. Conclusão

Desgraçadamente, sair por aí criando “igrejas” e se intitulando "bispo" é uma coisa muito, muito fácil, praticamente estimulada por nossa legislação, como você pode ver aqui. Tanto, que nos tempos atuais, "igrejas" são encaradas e geridas como se fossem empresas, verdadeiras máquinas de fazer dinheiro, e seus responsáveis nem sequer pagam impostos. Fundar igreja e se intitular a si mesmo de "bispo" é o charlatanismo mais rentável de todos! Infelizmente, pessoas ingênuas e desesperadas, sem nenhum conhecimento da fé e da Igreja não faltam. Por isso, católico, é de suma importância que você conheça o nosso passado, as nossas raízes, a história da Igreja, que preserve a memória cristã.

Resumindo, como podemos comprovar no testemunho dos primeiros cristãos,fora da sucessão regular dos Apóstolos não há verdadeiro Episcopado, não há verdadeiro ministério, não há bispos e, muito menos, "apóstolos". Logo, não há Igreja de Fato. Por esta razão, os chamados “bispos evangélicos" não são Bispos, e suas “igrejas” não são Igrejas. Agirmar isto não é ser intolerante, nem rigoroso, nem grosseiro. É apenas e simplesmente falar a verdade. Ou será que para sermos gentis e tolerantes deveríamos ser coniventes com a mentira?

Já está mais do que na hora desses nossos irmãos saírem de sua “redoma bíblica” e procurarem conhecer a verdadeira fé cristã dos primeiros séculos, isto é, dos tempos em que a Bíblia Sagrada Cristã ainda nem estava definida, e muito menos disponível para todos, como hoje. Os que assim fizeram, acabaram retornaram para a Igreja de Cristo, como aconteceu neste caso e em muitos outros. Pois o que foi Verdade sempre não pode ser mentira agora.

Peçamos a Deus que nossos irmãos ditos "evangélicos" sejam libertos do subjetivismo e do engano. E que mais e mais católicos busquem conhecer melhor o tesouro que possuem na Igreja Católica, e dêem o seu testemunho sempre que tiverem oportunidade.
Fonte principal: http://ofielcatolico.blogspot.com.br/

Referência:

[1] INÁCIO, de Antioquia. Padres Apostólicos - Carta aos Romanos. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides M. 2ª. Edição. São Paulo: Paulus, 1995. (Patrística; 1). p. 103-108;

[2] CLEMENTE, Bispo de Roma. Padres Apostólicos, Primeira Carta de Clemente aos Coríntios. Tradução Ivo Storniolo, Euclides M. Balancin. São Paulo: Paulus, 1995. (Patrística, 1). p. 5-70;
[3] EUSEBIO, Bispo de Cesaréia. História Eclesiástica. Tradução Monjas Beneditinas do Mosteiro de Maria Mãe de Cristo. São Paulo: Paulus, 2000 (Patrística; 15).







segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Humor, política e 'sem-querer-querendo'


Chesterton dizia que o problema do homem moderno não é apenas que ele deixou de crer em Deus, mas que, deixando de crer Nele, passou a acreditar em qualquer coisa.

Tempos difíceis. Vê-se hoje a situação dos cristãos: amargamos, por debaixo do silêncio criminoso dos veículos midiáticos, a soma de 100.000 assassinados por motivo de confissão religiosa em todo o mundo. 
Tempos difíceis. Estamos de visita em casa. O lobo, sim, o lobo. Para além da oposição externa, há os corruptores internos. 

Sabe-se que o cristão não pode, (e já) por definição, andar de mãos dadas com esta massa indigesta que é o mundo moderno, cujas características mais determinantes assentam sobre a negação mesma da religiosidade autêntica e o materialismo como pretenso traço de todo o repertório de ideias e ações humanas. Qualquer discordância, qualquer opinião contrastante que salte através do materialismo enquanto única perspectiva razoável de compreensão da realidade, é indiscriminadamente rechaçada como loucura ou - palavra de ordem nos dias atuais - como “fundamentalismo”. 
Nesse contexto, o recente caso do Porta dos Fundos é emblemático: os cristãos, sentindo-se vilipendiados pelo “humor” do grupo, são tidos em conta de destemperados, maldosos e radicais. Pois bem. De minha parte, digo que os cristãos tem todo o direito de se opor à infeliz esquete publicada pelo grupo, e explico. 
Alguns defensores do Porta dos Fundos, ao julgarem excessiva a reação dos cristãos, dizem: “mas, trata-se apenas de humor”. Tudo bem. Contudo, coloquemo-nos no lugar dos católicos, por exemplo: que acharíamos, sinceramente, de termos nossas mães referidas num vídeo como adúlteras ou coisas do tipo? Isso porque, para nós católicos, a Mãe de Jesus também É nossa Mãe - e, isso, há cerca de dois mil anos divulgamos, para que os "desavisados" não aleguem contra nós alguma negligência propagandística. Os mais liberais, autoproclamados menos “moralistas”, podem achar exagero, intolerância, mas, ainda assim, convenhamos... pode-se compreender quando alguns católicos, que, em geral, cuidadosamente se abstêm de xingar as titias, primas e genitoras alheias, não achem “tão legal assim” estar numa situação dessas. 

Trocando em miúdos: não é por falta de razoabilidade que os católicos não gostaram do vídeo do grupo. Ponto. Apesar disso, este é o ponto que menos interessa para a legitimidade pública de uma confrontação dos cristãos ao que o grupo fez. O mais importante diz respeito à atenção ao uso do humor como política cultural.

Ian SBF, um dos diretores do Porta, numa entrevista ao jornal O Globo, disse que "a intenção do vídeo não era atacar a fé dos cristãos, apenas fazer rir...". Com isso, o grupo se isenta e prova, por assim dizer, o exagero dos segmentos religiosos que tão veementemente se contrapuseram ao vídeo. Só que ele não pára por aí. Prossegue: “Mas até ficamos contentes com isso, porque acaba gerando discussão. O assunto parece velho, mas até hoje é necessário debater sobre os benefícios e malefícios das religiões”. 

Ora!, sinceramente, os membros do Porta dos Fundos tem de se decidir. Ou estão apenas fazendo humor “inofensivo” - e os religiosos passaram do ponto - ou há uma crítica, um afetado componente político-cultural intrínseco ao trabalho do grupo (ao menos neste caso), o que automaticamente legitima a resposta dos religiosos (mesmo que não seja uma resposta somente no nível cultural, o que seria até mais recomendável). Muitos artistas fizeram piadas com a religião (o que, pessoalmente, não recomendo, mas entendo que muitos não partilham deste mesmo pensamento), e a sociedade não viu os religiosos darem chilique. O humor como ideologia pode ser combatido sem problemas (uma vez que, nesse caso, o que está substancialmente em jogo é seu conteúdo político), denunciado na sutileza de suas expressões e flagrado em sua pretensa onipotência. Dito de outro modo, não se trata de uma limitação do humor em si mesmo, mas apenas de ressaltar que o seu discurso deve ser posto à luz, para que o observador distinga de alguma maneira o elemento lúdico do político; não é separar as piadas da política; é chamar atenção para o fato de que aquelas não podem servir para produzir o efeito que a fala do Ian sugere, mesmo que inconscientemente: a unilateralidade do discurso no qual alguém se pode valer do humor para atacar, sem ter de responder pelo que fala.

O pior do humor não é a crítica inconfessada (que é uma poderosa arma), mas é querer a invencível dialética coxa. O precipício moral de qualquer atividade humana repousa na imputabilidade do "sem-querer-querendo" das ações.